terça-feira, 25 de outubro de 2016




A coragem de ter medo



CapaLivroPág.Crianças22Out (p.43)
Começa-se pelo medo do de
CapaLivroPág.Crianças22Out (p.43)sconhecido, entra-se pelo escuro, passa-se pela tempestade, pelo silêncio, pelas alturas, pela dor ou pela diferença. Mas há outros medos explorados neste primeiro livro infantil ilustrado de Rodrigo Abril de Abreu. Estão lá os receios de alguns de nós já adultos e das crianças também.
O livro organiza-se em diálogo, onde à assunção de um medo se segue uma frase que o suaviza e oferece uma nova possibilidade a partir dele. “Tenho medo do desconhecido”, dirá alguém. “O desconhecido é um mundo por explorar”, responderá outro alguém (ou o próprio, se reflectir sobre o que o inquieta). “Tenho medo do escuro.” Resposta: “Aí nascem as estrelas.” Ou ainda: “Tenho medo de tempestades.” Reflexão: “Revelam o teu porto de abrigo.”
O autor, formado em Engenharia Física e doutorado em Neurociências pela Fundação Champalimaud, disse ao PÚBLICO que não pretende “dar lições”, mas tão-só “levar as pessoas a olharem o medo de outra maneira”. Diz ser fascinado por comportamentos sociais e emoções e pensa que muita gente “tem medo de livros sobre o medo”. Revela ainda: “Aqui estão os meus medos e a forma como os vejo.”
Autodidacta, 39 anos, criou este livro durante uma formação no atelier/casa de Nic e Inês: Livro Ilustrado — Do Mundo Manual ao Processo Digital. “Não tinha pensado em editá-lo, mas os meus formadores sugeriram-me e incentivaram-me”, conta. Enviou a obra para algumas editoras e a resposta positiva da Editorial Presença foi a mais rápida. O livro foi publicado.
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Para as ilustrações, usou canetas, aguarelas e recortes. Contou ainda com a ajuda do irmão, um pouco mais novo, João Abril de Abreu, que fotografou as ilustrações com as sombras das mãos do autor, que percorrem todo o livro, numa espécie de entidade protectora.
O resultado é um livro envolvente, que não assusta, antes desafia a olhar os medos de uma perspectiva encorajadora e feliz, tanto quanto possível. O autor volta a sublinhar que esta é uma versão possível de se lidar com os medos. Certo de que haverá muitas outras. “Esta é a minha. É assim que eu vejo os medos.”
Durante o doutoramento, Rodrigo Abril de Abreu desenvolveu projectos de comunicação e educação de ciência e explorou música, teatro, desenho e ilustração. No seu perfil de Facebook, diz-se “empenhado em intersectar arte, ciência e comunicação, esperando encontrar novas formas de melhorar o pensamento crítico, consciência social e os comportamentos pró-sociais na sociedade”. Parece estar no caminho certo.
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Voltando ao livro: “Tenho medo de ser pequeno.” “Só precisas de um coração grande.” E também: “Tenho medo de ser diferente.” “Ser diferente é ser como toda a gente.”
Até os mais receosos da inevitável chegada do fim ficarão a saber que este pode ser encarado como “um novo começo”. Temos mais coragem do que sabemos.
Medo do Quê?
Texto e ilustração: 
Rodrigo Abril de Abreu 

Fotografia: João Abril de Abreu
Edição Editorial Presença
40 págs., 10,50€
in: http://blogues.publico.pt/letrapequena/